Carlos ‘Mister’ Belo da Silva, 27 anos, nascido e criado na Rocinha, começou a surfar por causa de um tio, aos 11 anos de idade. “Achei uma prancha de surfe no lixo, não tinha bico nem quilhas. Peguei do lixo e fui com ela pra praia no mesmo dia, desde então não parei mais de surfar”.
por Janaína Pedroso
Ao lado dos amigos Gabriel “Popó”, Anderson “Loirinho” e Rafael “Caveirinha”, Mister estrela no Canal OFF, no programa inédito, “Onde o Surfe Me Levou”, que vai ao ar nesta quinta, 08, às 21h.
Professor de surfe, Mister comanda o projeto “Vivendo Um Sonho Surf”, que atende cerca de 55 crianças moradoras da Rocinha. “Sou filho de um projeto do Recreio. Então, senti que precisava contribuir de alguma forma e retribuir também o que o surfe me deu”. Além de aulas de surfe, o projeto ensina inglês, espanhol, francês, computação, conserto de pranchas e leitura aos jovens e crianças.
“O projeto é mantido por meio de doações, mas fazemos mais do que podemos muitas vezes, porque falta estrutura e equipamento para atender todas as crianças e jovens como gostaríamos”, explica Mister.
O surfe salvou minha vida
Carlos Mister começou a competir aos 13 anos de idade e seguiu até os 25. Participou de eventos regionais, estaduais e até evento brasileiro, e assim coleciona alguns troféus.
“Surfar era muito difícil, pois no começo a família não aceitava. Diziam que era coisa de vagabundo. Até que consegui mostrar que o surfe poderia me dar uma vida melhor. Então, minha avó e minha mãe, principalmente, passaram a me incentivar.
Para onde o surfe me levou
A participação no programa do OFF, fez com que Carlos e os amigos realizassem o sonho de quando ainda eram crianças e imaginavam como seria surfar uma onda perfeita.
“Participar do programa foi a realização de um sonho. Tanto que quando acordei e estava na Indonésia não conseguia acreditar! Surfar Uluwatu, Padang Padang, Desert Point, nossa foi incrível!”
Além de levá-lo a uma surftrip incrível pela Indonésia, Carlos conta, de forma geral, como o surfe mudou sua vida.
“O surfe me fez ser uma pessoa de caráter, ter disciplina, salvou minha vida. Espero um dia conseguir viver do esporte, formar mais cidadãos e dar uma expectativa de vida a eles. Espero conseguir ir para outros lugares, ter mais experiências como a do programa no OFF, através do surfe.”
Pandemia em comunidade
A pandemia escancarou ainda mais a desigualdade social no Brasil. A dificuldade de fazer isolamento social para quem precisa garantir o básico para sobreviver, somado à ineficiência de políticas públicas emergenciais tem caráter de bomba relógio.
“Conseguir fazer isolamento em uma comunidade é muito difícil, muitas pessoas aqui precisam lutar para ter o que comer. Precisam ir pra rua para trazer a comida do dia. Então é realmente muito complicado”, diz Mister.
Em função da Covid, o projeto precisou seguir com adaptações. “Com a pandemia, passamos a organizar e distribuir cestas básicas, foram mais de mil até agora. Espero que essa pandemia sirva para que as pessoas enxerguem a vida de uma outra maneira, que vejam como precisamos de mais amor, empatia e abraços do que coisas materiais. Nesse momento é preciso compartilhar mais amor”.
Quando pergunto a Carlos se ele gostaria de me contar mais alguma coisa, para finalizar a entrevista ele diz que sim.
“Tudo que a gente leva desse mundo é gratidão, o resto fica. Nosso maior legado é ter e compartilhar amor e paz. Então, para quem pode compartilhar amor, levar alegria a alguém, se doar com uma palavra, um gesto de carinho. Porque a vida é isso. Também quero agradecer ao canal (OFF), à produtora (ZenFilmes) e a você pelo espaço”.
Eu finalizo a entrevista com os olhos marejados, fazendo uma força sobrenatural para não cair no choro, e implorando por mais pessoas como Mister nesse mundo!
Serviço
“ONDE O SURFE ME LEVOU” – ESTREIA – CANAL OFF
Quinta, 8 de abril, às 21h
Horários alternativos: Sexta, 23h / Domingo, 9h / Segunda, 13h30 / Quarta, 15h30
Para conhecer mais o projeto “Vivendo Um Sonho Surf” acesse:
https://www.vivendoumsonhosurf.com/
Ótimo projeto, ótima história e escrita da reportagem.
na espera do programa, valeu!